Há quem diga que a oclusão dentária em nada influencia a posição da
mandíbula e que não está envolvida nas disfunções articulares
temporomandibulares (DTMs) e nos distúrbios do sono. Oclusão é a justaposição
das arcadas dentárias, o contato e o encaixe dos dentes superiores e
inferiores, e qualquer alteração nesse mecanismo pode trazer danos aos dentes,
gengivas, ossos, músculos, ligamentos e articulações, sobretudo diante de um
hábito parafuncional, tal como o bruxismo, o hábito de apertar ou ranger os
dentes. As articulações temporomandibulares realizam movimentos complexos e são
relacionadas às funções de mastigação, deglutição, fonação e postura, então
falo de uma odontologia que não se limita tão somente aos dentes. Um exemplo
muito claro da influência da oclusão dentária na origem das DTMs e numa baixa
qualidade de sono é a verticalização dos incisivos. Essa condição leva à uma
retrusão mandibular que, por sua vez, produz uma compressão da parede posterior
da cavidade articular do osso temporal, uma região altamente inervada e
vascularizada, acionando e sensibilizando a via da dor. Além disso, a retrusão
mandibular é uma das principais causas do ronco e da apnéia obstrutiva do sono.
Em função dessas informações, afirmo com toda a certeza de que o tratamento das
DTMs e dos distúrbios do sono é multidisciplinar, no qual o ortodontista desempenha
toda a sua importância, mas, para isso, são necessários conhecimentos e
dedicação. Assim como pode e deve auxiliar nos tratamentos, o ortodontista pode
contribuir para as etiologias de problemas graves e infelizmente é o que tenho
visto. A odontologia atual não está preocupada somente com a estética, mas com
a função do sistema estomatognático e a qualidade de vida de um ser humano,
física e emocional. (Danielle Louise Sposito Bourreau)