Qual a relação entre leptina, obesidade e sono? A leptina (do grego
leptus = magro) é um hormônio peptídico, encontrado em nossas células de
gordura (adipócitos), liberado durante o sono profundo, responsável pela sensação
de saciedade e pela regulação do termostato de energia do nosso corpo. Sua
concentração varia de acordo com a quantidade de tecido adiposo. Além de seu
conhecido efeito sobre o controle do apetite, evidências atuais demonstram que
a leptina está envolvida em controle da massa corporal, osteogênese,
angiogênese, reprodução, imunidade, cicatrização e função cardiovascular.
Funciona assim: Quando temos armazenamento de energia suficiente para os
processos vitais e metabólicos, os níveis de leptina encontram-se normais ou
acima do limite. Significa, então, que não teremos fome e poderemos queimar a
gordura e manter o peso. Porém, quando os níveis de leptina encontram-se
reduzidos, o cérebro não recebe a informação da saciedade, haverá uma
estimulação do nervo vago e teremos as sensações de fome e falta de energia. Em
resumo, a leptina reduz o apetite ao informar o cérebro que os estoques de
energia em forma de gordura estão adequados, através da inibição da formação de
neuropeptídeos relacionados ao apetite. Do lado oposto, baixos níveis de
leptina induzem a hiperfagia.
Na obesidade, temos uma grande quantidade de células de gordura e,
portanto, um aumento dos índices de leptina no organismo. Essa é a chamada
Resistência à Leptina, na qual, embora haja a presença suficiente do hormônio
no corpo, o cérebro não recebe o importante sinal para parar de comer e não
toma a consciência do sobrepeso. A resistência à leptina envolve fatores como o
hábito do jejum prolongado, o tabagismo, exercícios físicos exagerados e a
intensa exposição ao frio.
A produção de leptina em pessoas normais segue um ritmo circadiano. Como
a leptina é secretada pelos adipócitos durante o sono profundo, pessoas que
permanecem acordadas por períodos superiores ao recomendado produzem menores
quantidades de leptina. Resultado: o corpo sente necessidade de ingerir maiores
quantidades de carboidratos e as calorias ingeridas serão armazenadas.
Pesquisadores da UNICAMP realizaram um estudo com crianças obesas e a
sua relação com o sono. Foi avaliada a qualidade de vida e a do sono de 120
crianças e adolescentes obesos e eutróficos (com peso ideal), de ambos os
sexos, entre 10 e 14 anos. A pesquisa apontou a prevalência de perturbações e,
consequentemente, pior qualidade do sono entre os integrantes do grupo obeso.
Dentre as principais interferências do sono no grupo de jovens obesos estão
ronco, agitação noturna, insônia no meio da noite, pesadelo, medo de dormir
sozinho ou no escuro e enurese noturna. Além disso, quase 20% deles relataram
repetência em alguma série escolar e aproximadamente 33% dos entrevistados
admitiram ter algum problema de saúde, inclusive, controlado por medicamentos
para rinite alérgica, depressão, hipertensão arterial, tireoide, diabetes,
hiperatividade e problemas digestivos.
Dormir cedo é um hábito que deve ser aprendido desde a infância, pois
aproveitar o pico de secreção da melatonina certifica um aprofundamento do sono
e a sua boa qualidade, aumentando os níveis de leptina no organismo ao mesmo
tempo que reduz a quantidade de grelina, um hormônio que induz a fome e o
apetite, mas este já é um assunto para um outro estudo. (Danielle Louise
Sposito Bourreau)
Legenda da figura: Durante um estudo, o rato da esquerda foi
incapacitado de produzir a leptina.